Alguns anos atrás, passando pela Rua Ouro Preto, vi uma casa em ruínas, cercada de grades enferrujadas. Ouvi música agradável vinda desse lugar, não hesitei, parei e entrei! Uma vez dentro daquele ambiente, vi que as paredes tinham pouco reboco, onde havia pinturas com a imagem de grandes ídolos do Rock. Expansivo como sou, comecei a conversar com um certo Bruno Silva, dono desse bar denominado “Eskizito”. O cara me surpreendeu, mostrava muita erudição, era um homem de letras, professor de História, e desde então passei a frequentar aquele ambiente, não apenas pela cerveja, mas também pelo prazer do bom diálogo intelectual com esse tal Bruno.  

          Em pouco tempo Bruno transformou aquela casa em ruínas numa espécie de centro cultural que agregava grandes intelectuais. O lugar começava a fazer história. Assim como o dono, o lugar era de tolerância, ali se ajuntavam pessoas das mais diversas correntes de pensamento, que discordavam entre si, porém a cordialidade e amizade permaneciam. O lugar era reflexo do dono, Bruno era assim, podia discordar de suas ideias, mas não perderia sua amizade. 

            Aos poucos aquele bar chamado “Eskizito” virou referência pra galera “underground”, gays, lésbicas, trans, negros, e outras minorias se sentiam à vontade naquele lugar, pois ali não havia preconceito. O Bruno era assim, o estabelecimento dele não permitia discriminação e atraia pessoas tolerantes. O fato é que esse bar não era direcionado a uma minoria específica, como os lgbt’s, mas era um bar onde todos os diferentes pudessem se sentir iguais. Eu sei que há muita gente que tem um discurso de igualdade, mas o Bruno conseguiu colocar isso em prática no seu bar “Eskizito”! Nesse bar todo mundo era respeitado, negro, gay, lésbica, etc...

           Esse bar fez sucesso por alguns anos, até que o Bruno teve que reduzir a atividade do estabelecimento para cuidar do pai, e após a morte de seu pai veio à pandemia. Assim o Eskizito foi minguando, abrindo cada vez menos até fechar. Foi uma grande tristeza pra mim e outros amigos. Sim, digo amigos, pois o Eskizito não tinha clientes, tinha amigos. 

           Eu ainda tinha esperança que após o fim da pandemia o Eskizito voltasse a funcionar. Porém recebi a triste notícia da morte do meu amigo Bruno, dono do bar. Foi uma notícia aterradora, a partir dela eu percebi que o ambiente de maior inclusão social, sem preconceitos, não existiria mais em minha cidade, pois a essência desse lugar havia partido desse planeta!

            Gentil Bruno Silva, que sua alma receba a recompensa por toda aceitação e acolhimento que você prestou aos discriminados dessa terra. Descanse em paz e até breve!