A crise emocional coletiva envolvendo vários estudantes da Escola Estadual Agrotécnica Afonso Queiroz em Patos de Minas teve uma grande repercussão. Milhares de visualizações, curtidas, compartilhamentos e, é claro, comentários. Nesses, as pessoas apontaram diversas causas, algumas com algum fundamento, certas absurdas e outros até minimizaram a situação. A verdade é que os episódios são mais complexos e, segundo o especialista ouvido pelo Patos Hoje, é preciso uma avaliação profissional. A escola já havia descartado algo relacionado à comida ou água da instituição.

O Psicólogo, Especialista em Psicologia Clínica e em Neurociências e Comportamento, Ezequias Caetano, ressaltou que é importante que estes alunos possam ser ouvidos por um profissional da Psicologia ou Psiquiatria para que seja possível entender o que realmente aconteceu. “Pode ser ansiedade de fato, mas outras emoções também podem apresentar sinais parecidos e serem confundidas com ansiedade por quem estiver observando. Apenas uma avaliação profissional pode indicar o que realmente aconteceu e encontrar alternativas efetivas de cuidado”, destacou.

O especialista ainda ressaltou que é importante sermos cuidadosos quanto às tentativas de encontrar causas sem que cada um dos estudantes seja ouvido por um profissional especializado. “Processos emocionais são complexos e, em geral, são influenciados por um conjunto de coisas atuando juntas. Atribuir apenas a uma coisa ou outra isoladamente e sem uma avaliação adequada pode gerar estigma, expor os estudantes e aumentar o sofrimento”, alertou.

Segundo o psicólogo, em geral, respostas emocionais intensas e desconfortáveis acontecem quando a pessoa está diante de situações que são desafiadoras em algum sentido, especialmente se há um acúmulo destas situações. “Podemos comparar ao peso suportado pelos pilares de um prédio. Quando esse prédio possui pilares o suficiente, resistentes o suficiente, ele está seguro. Se por algum motivo este prédio perde alguns dos pilares ou se estes pilares se tornam menos resistentes, existe um risco maior de desabamento ou, ao menos, de danos na estrutura da construção”, exemplificou.

O Patos Hoje questionou sobre o impacto do uso exagerado de redes sociais, o psicólogo explicou que sim, o uso excessivo de redes sociais ou outras mídias pode estar associado a problemas com emoções ou interações sociais. Em grande medida, isso acontece porque, ao passar muito tempo na internet, a pessoa deixa de praticar habilidades sociais importantes, perde a oportunidade de se habituar a situações emocionais e de aprender a resolver problemas concretos no dia a dia. No entanto, Esequias destaca que não é possível afirmar que este seja o caso dos alunos que enfrentaram a crise de ansiedade, já que não os conhece e não tem informações sobre a história de vida deles. Comentários agressivos em grupos de whatsapp, redes sociais, notícias ou outros locais em que as crises são relatadas também podem ter impacto negativo. Além de ofenderem os alunos e suas famílias em muitos casos, podem aumentar o preconceito que estas pessoas enfrentam em outras situações, como na própria escola e na vizinhança.

Descartando certos absurdos citados pelos comentaristas, ele comentou que as situações específicas que são desafiadoras podem ser muito diferentes de uma pessoa para outra. “É impossível saber quais foram sem conversar com os alunos envolvidos. Podem ser situações relacionadas a desafios da fase da vida em que estão, podem ser situações relacionadas a relacionamentos afetivos ou entre amigos, podem ser situações relacionadas a questões familiares, podem ser situações relacionadas a questões escolares, podem ser relacionadas a dinheiro, podem ser várias outras coisas que sequer passam por nossa cabeça”, ponderou. Ele aproveitou para informar que Patos de Minas conta com serviço de atendimento psicológico gratuito nas faculdades. Existe, também, o CAPS como uma alternativa.

Nessa sexta-feira (17), pelo menos 6 alunos tiveram que ser socorridos pelo SAMU até o Hospital Regional após apresentarem crise de ansiedade, com falta de ar, desmaio, convulsão e entre outros. No dia anterior, também houve necessidade de atendimento a alunos na escola pela mesma situação. Alunas teriam se sentido mal e quando colegas foram prestar apoio acabaram desenvolvendo os sintomas, como um efeito dominó. A Escola Agrotécnica Afonso Queiroz nunca havia registrado esse tipo de caso. A Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais disse que a direção da escola e a superintendência vão continuar prestando apoio e acolhimento aos estudantes e seus familiares.