Em Patos de Minas, a pesquisa mostrou que plantas bem comuns em nossa região podem complementar o tratamento tradicional da hipertensão.

As doenças cardiovasculares, como ataque cardíaco e derrame, são as enfermidades que mais matam em todo o mundo, conforme relatório da Organização Mundial da Saúde. A hipertensão arterial, popularmente conhecida como pressão alta, é uma patologia crônica do sistema cardiovascular e um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de outras doenças cardiovasculares. Sendo a hipertensão causadora de tantas mortes, a pesquisadora Cristina R Fürstenau, docente do Curso de Bacharelado em Biotecnologia da UFU em Patos de Minas, vem desenvolvendo desde 2013 uma pesquisa para conseguir complementar o tratamento da doença. Em Patos de Minas, a pesquisa mostrou que plantas bem comuns em nossa região podem complementar o tratamento tradicional da hipertensão.

De acordo com a docente, a pressão alta atinge em torno de 30 milhões de brasileiros. Sem apresentar sintomas e, na maioria das vezes, de causa desconhecida, a torna extremamente perigosa e um importante foco de estudo para os pesquisadores. A utilização de plantas para o tratamento de enfermidades está presente desde os primórdios da humanidade. O reconhecimento dos compostos bioativos e das vias celulares, entretanto, ainda permanece ignorado e vem despertando, de maneira crescente, o interesse de cientistas de todo o mundo. A professora destacou que tanto patologias mais simples, como dores estomacais e resfriados; como outras mais complexas, como diabetes, câncer e pressão alta, podem ser tratados com produtos naturais de plantas.

O Cerrado brasileiro representa o segundo bioma do país e se estende por vários estados do Brasil, incluindo Minais Gerais. Tal formação geográfica exibe uma riquíssima biodiversidade, com destaque para a variada flora. Babaçu, guariroba, araçá, jatobá, pequi, ingá, mangaba, araticum e muitas outras espécies são encontradas no Cerrado. Diferentes estudos vêm demonstrando as propriedades biológicas das plantas do Cerrado, atuando especialmente como anti-inflamatórios e antioxidantes naturais.

O grupo de Bioquímica Vascular da Universidade Federal de Uberlândia, campus Patos de Minas, vem se dedicando a investigar o potencial anti-hipertensivo de tais espécies vegetais. Cristina informou que atualmente o grupo é formado por ela, como coordenadora do laboratório e supervisora dos estudos, seis alunos de graduação, uma mestranda e uma técnica de laboratório. Dessa forma, extratos obtidos de pequi, sangue-de-Cristo, mangaba e guabiroba vêm sendo testados sobre enzimas específicas, envolvidas no controle da pressão arterial, no plasma e nos vasos sanguíneos de modelos animais e celulares, respectivamente.

Os resultados têm se mostrado bastante promissores e, além de contribuir para a formação de recursos humanos, vêm elucidando de maneira importante os benefícios popularmente reconhecidos dessas plantas, substanciando efetivamente seu uso como completo no tratamento da pressão alta. Ela ainda destacou que todos os dados obtidos foram gerados na UFU campus Patos de Minas, evidenciando, mais uma vez, a iminência do referido campus em se tornar um polo de pesquisa de alto impacto na região.

Cristina ainda explicou que o trabalho procura dar uma base científica para aquilo que já é utilizado popularmente. “Então, por exemplo, as pessoas fazem infusões com a raiz de sangue de Cristo e bebem, observando diferentes efeitos benéficos como antiinflamatórios, antioxidantes e outros. Nós apostamos que essa planta em especial tenha efeito antihipertensivo também”, ressaltou.

Ela ainda salientou o objetivo do trabalho feito pelos pesquisadores. “Na Universidade, fazemos pesquisa básica, o que significa que, futuramente, as indústrias farmacêuticas podem usar nossos resultados para produzir um novo medicamento. Mas hoje não temos uma via de administração para sugerir. Temos resultados científicos mostrando que as infusões ingeridas pela população têm efeito porque contém um alto conteúdo de moléculas antioxidantes capazes de regular a pressão arterial, que é o foco do nosso estudo”, concluiu.