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Entender o que se leva ao suicídio não é nada fácil, mas é possível imaginar o grande sofrimento que a pessoa enfrentava. Por motivos éticos e para se evitar novos casos, os meios de comunicação geralmente não divulgam suicídios. No entanto, com o objetivo de orientar, o Patos Hoje publica esta matéria que pode contribuir para evitar novos casos.

De acordo com a Polícia Militar, os casos consumados de suicídio vêm aumentando em Patos de Minas. Em 2013, foram oito suicídios consumados e 17 tentados. No ano de 2014, foram registrados 12 suicídios e 17 tentativas. Em 2015, o número de morte foi ainda maior: foram 15 autoextermínios consumados e 6 tentativas. E neste início de 2016, dados que a Polícia Militar não têm ainda com exatidão, várias mortes já foram registradas na cidade.

Um trabalho desenvolvido pelo especialista, Esequias Caetano, esclarece e orienta as pessoas a ajudarem quem se encontra a ponto de se matar. O trabalho indica os fatores que aumentam os riscos de uma pessoa se suicidar, mostra o que se deve fazer para ajudar uma pessoa em risco e o que não se deve falar para este indivíduo. Com as informações, familiares e amigos podem evitar o acontecimento de outros autoextermínios e salvar vidas.

Veja o artigo na íntegra:

Como ajudar uma pessoa em risco de suicídio?

Esequias Caetano – CRP 04/35023- Especialista em Psicologia Clínica -  Terapia Analítico Comportamental- Formação em Terapia de Aceitação e Compromisso e Terapia Analítico-Funcional- E-mail: [email protected]/

Desde a última semana, Patos de Minas tem voltado sua atenção a um tema complexo e delicado: o suicídio. Ele é complexo porque é multifatorial – uma quantidade enorme de fatores deve estar presente para que uma pessoa chegue a se suicidar. Ele é delicado porque é cercado de mitos que, de uma forma ou de outra, acabam contribuindo para que muitas vidas sejam perdidas. Ele é delicado, ainda, porque a maioria das pessoas não sabe identificar os sinais, às vezes explícitos, que um amigo ou familiar transmite de que está pensando em suicídio – e quando consegue identificar, não sabe como ajudar. E é sobre isso que falaremos neste texto.

Olhando mais de perto para o suicídio: o que é capaz de levar alguém a tirar a própria vida?

O primeiro passo para compreender o suicídio de ajudar uma pessoa em risco é abrir mão de ideias simplistas sobre o assunto, como “é sinal de fraqueza”, “é sinal de covardia”, “é sinal de coragem”, “é falta de Deus no coração” ou “é para se vingar de alguém”. Crenças do gênero, embora coloquem quem acredita nelas em uma posição confortável, não contribuem em NADA para a compreensão do problema, e muito menos, para resolvê-lo. Em muitos casos, apenas pioram a situação. Mas para onde olhar, então?

A resposta está na combinação de fatores genéticos, pessoais e culturais. De forma resumida, os fatores genéticos envolvidos correspondem, principalmente, a tendências biológicas ao comportamento impulsivo, ao humor deprimido, a vulnerabilidade emocional e a dificuldade do cérebro de se regenerar da exposição a eventos estressores e traumáticos. Os fatores pessoais são experiências pessoais traumáticas, caracterizadas pela exposição a situações problemáticas cuja resolução foge às possibilidades do indivíduo – os fatores de risco descritos pela Organização Mundial da Saúde são exemplos de experiências do gênero. Os fatores culturais, por sua vez, são crenças, valores e regras que incentivam o suicídio de forma direta, ou ainda, que levem as pessoas com quem o indivíduo convive a terem atitudes hostis com ele, como discriminação, níveis de exigência elevados, críticas em razão de alguma característica, entre outras.

Quanto maior a quantidade de fatores predisponentes de em qualquer uma das esferas citadas – genética, pessoal ou cultural -, quanto maior o tempo de exposição e quanto maior a intensidade desta exposição, maiores os riscos. Em geral o indivíduo suicida acumula, ao longo de sua história, uma série de experiências de fracasso, frustração e insucesso (fatores de ordem pessoal) que levam-no a se sentir cada vez pior consigo mesmo. Quando estes fatores são combinados com uma cultura que leva os familiares e amigos desta pessoa a julgarem-na por seus erros de forma repetitiva e intensa, por exemplo, o sofrimento piora e os riscos de suicídio aumentam ainda mais. A combinação destes fatores favorece a desistência de tentar (quando nada dá certo, é difícil continuar tentando), a aprendizagem de crenças de inferioridade, de indignidade, de incompetência e incapacidade e a construção de sentimentos de baixa autoestima, baixa autoconfiança, desesperança, entre outros, tão característicos da pessoa que tenta suicídio.

Se você deseja compreender de forma mais aprofundada o que leva alguém a cometer suicídio, recomendo a consulta ao material disponível neste link ( http://www.ellopsicologia.com.br/suicidio-videos-e-materiais-didaticos-indicados/ ).

Como saber se uma pessoa próxima está correndo risco de suicídio?

Identificar os sinais de risco não é tarefa fácil. Requer atenção, e principalmente, uma atitude acolhedora e de não julgamento. A atenção é necessária porque, embora os sinais nem sempre sejam tão sutis, nossa tendência natural é ignorá-los. A maioria das pessoas, quando ouve uma fala suicida ou vê um comportamento que indique risco de suicídio, tende a achar que é besteira ou coisa passageira. E é aí que mora o perigo. A grande maioria dos suicídios poderiam ser evitados se as pessoas ficassem mais atentas às pistas que o suicida fornece diariamente.  Mas que sinais são estes?

1.Já ter tentado suicídio alguma vez. Uma pessoa que já tentou suicídio muito provavelmente voltará a tentar. Não é por acaso que este é o principal fator de risco para suicídio.

2.Dizer frases de alerta. Frases como “estou cansado da vida”, “não mereço mais viver”, “seria melhor se eu morresse”, “vocês ficarão melhor sem mim”, “sou um peso para os outros”, “não suporto mais” ou outras que sinalizem que a pessoa I) acredita que não merece estar viva, II) acredita que não tem motivos para estar viva ou III) acredita que as coisas melhorariam se morresse são sinais claros de risco.  Fique atento!

3.Preparação do suicídio. Obter instrumentos, medicamentos ou outros recursos que podem ser usados para suicídio também são sinais de risco. Falar muito destes instrumentos, pesquisar sobre eles ou aproximar-se deles, também.

4.Ter realizado pesquisas sobre métodos de suicídio. Uma atitude muito comum do paciente suicida é pesquisar métodos através da internet ou com conhecidos. É importante verificar se isso ocorreu ou está ocorrendo com alguém que apresente os outros sinais ou esteja exposto aos fatores de risco.

5.Ter comportamentos Parassuicidas. Comportamentos como automutilar-se através de pequenos cortes na pele, arranhões ou provocação de outros tipos de lesão são sinais de risco. Atitudes como estas, são chamadas ela literatura especializada de “Parassuicídio”.

6.Ter atitudes de “resolução” ou “despedida”. Uma pessoa que comece a entrar em contato ou visitar amigos e parentes, liquidar contas, distribuir bens, pedir a outras pessoas que cuidem daquilo que é importante (filho, animais de estimação, etc) e a resolver outras pendências, pode estar planejando suicídio.

7.Relato de sentimentos ou pensamentos de desesperança. Relatos como “acho que as coisas nunca vão melhorar”, “não adianta mais tentar viver”, entre outros do gênero, sinalizam risco de suicídio.

8.Estar exposto a algum dos fatores de risco para suicídio.  A Organização Mundial da Saúde apresenta uma lista de fatores de risco para suicídio, descrita abaixo, que deve ser observada sempre que um amigo ou familiar apresentar algum dos sinais de risco.

Fatores de Risco para o Suicídio

Os fatores de risco para suicídio descritos pela Organização Mundial da Saúde correspondem, especificamente, a exemplos de estressores como os mencionados neste texto. São eles:

- Possuir algum transtorno psiquiátricos, como Depressão, Transtorno de Personalidade, Alcoolismo, Esquizofrenia, Transtorno Bipolar ou outro.

- Possuir uma doença física, especialmente se for crônica.

- Idade entre 15 e 35 anos ou acima de 75 anos.

- Estar solteiro (a), viúvo (a) ou ser divorciado (a).

- Estar desempregado.

- Estar exposto a algum estressor da vida, como problemas interpessoais (discussões, brigas, dificuldade de se relacionar, etc), rejeição (de amigos, trabalho, etc), eventos de perda (perda financeira, luto, divórcio, aposentadoria, etc), mudanças rápidas na sociedade ou outras coisas que causem sofrimento significativo.

- Ter perdido algum amigo ou familiar por suicídio.

Os itens acima são apenas exemplos de estressores. Quaisquer experiências que se encaixem na definição fornecida no início do texto – “experiências traumáticas cuja resolução foge às possibilidades do indivíduo” – podem se transformar em fatores de risco. Neste sentido, vale ficar verificar se a pessoa tem passado repetidamente por problemas com os quais não consegue lidar, ou ainda, se ela enfrentou recentemente uma perda significativa que desestruturou de forma grave sua vida.

Como ajudar uma pessoa em risco de suicídio?

Existem várias formas de ajudar, mas a principal é, sem dúvida, encaminhar a pessoa ao atendimento psicológico ou psiquiátrico o mais rápido possível. É essencial que, assim que os sinais forem identificados, a ajuda especializada seja procurada. Mas enquanto isso, como abordar o amigo ou familiar em risco?

É neste ponto que entra a atitude acolhedora e de não julgamento. Ela é essencial não apenas para que seja possível ter uma boa conversa, mas também para que seja possível alcançar resultados proveitosos e, de fato, criar condições para que seja feito todo o possível para salvar uma vida.

As conversas com pessoas em risco de suicídio devem seguir algumas diretrizes. São elas:

Precisam acontecer em locais reservados, nos quais ninguém mais possa ouvir.

É necessário ter tempo disponível para as conversas, já que elas tendem a ser longas e difíceis. A pessoa com pensamento suicida geralmente acha que é um peso para os demais, então normalmente ela expressa resistência em falar.
É preciso respeitar o fato de que alguns pontos podem realmente ser difíceis para a pessoa e ela pode, pelo menos naquele momento, preferir não falar deles.
É preciso respeitar os sentimentos da pessoa. Ninguém escolhe se sentir mal, então frases como “você tem que ter força”, “você só precisa de força de vontade”, “vamos lá, sai dessa” ou outras do gênero apenas pioram a situação.
É preciso demonstrar sinais corporais de respeito e interesse, mantendo a atenção fixa no que a pessoa está falando, acompanhando sua gesticulação, etc.
É preciso demonstrar atitudes de cuidado e preocupação. Isso incluir se disponibilizar para ajudar com o que for preciso, e principalmente, incentivar a pessoa a buscar ajuda profissional.

O que jamais se deve fazer nestas conversas:

Interromper a fala da pessoa

Expressar choque ou emotividade exagerada diante do relato de pensamentos ou comportamento suicida.
Fazer os problemas da pessoa parecerem simples ou triviais
Dizer que tudo vai ficar bem ou que não há motivos para se preocupar
Dizer à pessoa que ela tem uma vida boa e não tem motivos para se sentir como se sente
Fazer perguntas ou comentários indiscretos
Emitir julgamentos de certo e errado

Durante a conversa é importante verificar se a pessoa já chegou a planejar o suicídio ou a ter alguma atitude para realiza-lo. Se a resposta a qualquer uma destas questões for positiva, o risco é iminente e há a necessidade de buscar ajuda especializada com urgência. Se houver ideação suicida, mas não houver planejamento ou atitudes para execução, o risco é menor, porém, a ajuda profissional continua sendo necessária – pessoas com risco de suicídio baixo podem saltar diretamente para o suicídio em algumas circunstâncias.

Onde procurar ajuda especializada?

Os profissionais mais indicados para ajudar uma pessoa em risco de suicídio são o Psicólogo e o Psiquiatra, em conjunto. Se você não puder pagar pelo atendimento especializado no momento, uma alternativa é buscar pelas clínicas escola do UNIPAM (Centro Universitário de Patos de Minas) ou da FPM (Faculdade Patos de Minas). O atendimento é gratuito e é realizado por estagiários dos cursos de Psicologia das instituições. Ao se cadastrar, informe a existência do risco de suicídio e peça urgência. Se ainda assim não for possível o atendimento em um espaço de tempo menor, busque pela ajuda do clínico geral mais próximo. Ele poderá, ao menos, amenizar os riscos até que você seja atendido adequadamente.

Um outro canal de atendimento especializado é Centro de Valorização da Vida (CVV). Ele é uma ONG, com sede em São Paulo, que desde a década de 1960 vem prestando atendimento a pacientes com ideação suicida ou crises suicidas. Se você conhece alguém em risco de suicídio, informe o telefone e o site do CVV para esta pessoa. O atendimento é realizado gratuitamente, 24 horas por dia, em qualquer dia da semana. O telefone é 141. O site é: http://www.cvv.org.br/

Autor: Farley Rocha