O empresário Marcelo Odebrecht prestou nessa segunda-feira (10) o primeiro depoimento ao juiz Sergio Moro depois de fechar delação premiada. Herdeiro do grupo Odebrecht, Marcelo reafirmou que Lula tinha o apelido de “Amigo” em suas anotações.

Ele detalhou que a empreiteira tinha uma conta com esse codinome usada para fazer repasses vinculados ao ex-presidente. Como delator da Lava Jato, Marcelo Odebrecht se obrigou a responder a todas as perguntas, diferentemente da primeira vez em que foi ouvido por Moro, em 2016.

Entre os repasses informados estão pagamentos feitos ao Instituto Lula que seriam usados em um prédio que abrigaria a entidade e também R$ 50 milhões direcionados à campanha de Dilma Rousseff por meio do ex-ministro Guido Mantega.

Ele também relatou o repasse de R$ 13 milhões em espécie que teriam sido entregues ao ex-presidente petista. O empresário disse que o dinheiro saiu da conta “Amigo” e foi pago em parcelas ao longo de 2012 e 2013. Na planilha da Odebrecht esses pagamentos aparecem associados a “Programa B”, referência a Branislav Kontic, assessor do ex-ministro Antonio Palocci, e está dividido em seis vezes.

Marcelo reafirmou que Palocci, que foi ministro nas gestões Lula e Dilma Rousseff, era o “Italiano” apontado em planilha de repasses de propina da empresa. O empresário detalhou os mecanismos de pagamento de vantagens indevidas a Palocci que, segundo ele, era o principal interlocutor da empresa no governo Lula.

A íntegra do depoimento está sob sigilo, assim como o acordo de delação premiada dos executivos da empreiteira, que ainda não foi tornado público pelo Supremo.

O interrogatório fez parte da ação contra Palocci, acusado de interceder em favor dos interesses da empreiteira. Ele foi mencionado em planilhas apreendidas na empreiteira que demonstram o pagamento de R$ 128 milhões em vantagens indevidas, segundo a denúncia.

Marcelo Odebrecht apontou Mantega como o sucessor de Palocci no contato com a Odebrecht, sendo ele o “Pós-Itália” na planilha apreendida pela PF.

O advogado Nabor Bulhões, que defende o ex-presidente da Odebrecht, não conversou com a imprensa sobre a audiência.

Outro lado. O Instituto Lula disse que o ex-presidente nunca pediu valor indevido à Odebrecht. “Lula não tem nenhuma relação com qualquer planilha na qual outros possam se referir a ele como ‘Amigo’ (...) Por isso não lhe cabe comentar depoimento sob sigilo de Justiça vazado seletivamente e de forma ilegal”.

O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, não quis comentar o teor da audiência, sob o argumento de que ela está em segredo de Justiça. Ele vem afirmando que o ex-ministro é inocente e que “Italiano” “é um apelido em busca de um personagem”. Mantega tem negado irregularidades.

Sigilo. O sigilo das delações da Odebrecht e da lista de Janot não deve cair nesta semana. O relator do caso no STF, Edson Fachin, foi para o Paraná, sua terra-natal, e só voltará à Corte na segunda-feira.

Vazamento cria clima ruim em audiência

O interrogatório do empresário Marcelo Odebrecht, que deveria ficar sob o mais rigoroso sigilo por ordem judicial, foi “transmitido online” pelo site O Antagonista, nessa segunda-feira (10). Os detalhes mais importantes do relato do delator – ouvido pelo juiz federal Sergio Moro – foram levados em tempo real aos leitores do site.

A situação provocou um tumulto na sala de audiências quando o criminalista José Roberto Batochio, defensor do ex-ministro Antonio Palocci, alertou o magistrado sobre o incrível vazamento on line.

Em meio a um clima de desconfiança geral, os advogados dos acusados, os representantes do Ministério Público Federal e os policiais federais que estavam na sala se dispuseram, ‘por iniciativa própria’, a mostrar seus celulares. O próprio juiz afirmou que não estava com seu aparelho na sala.

“Quanto ao episódio do vazamento de trechos pontuais, é de se lamentar o ocorrido”, observou o juiz Sergio Moro, que determinou a apuração do caso.

Fonte: O Tempo