Neste dia 30 de dezembro de 2020 estive presente em uma manifestação de militantes negros que exigiam justiça por Madalena. (Após duas reportagens do Fantástico, creio que não preciso dizer quem é Madalena). O protesto pacífico desta vez ocorreu na Praça do Coreto, em Patos de Minas. A maioria dos presentes eram negros e pardos, ostentando cartazes e repetindo palavras de ordem contra o racismo. Dentre as muitas pessoas presentes, estava a gentil e agradável Élida Abreu, representante do Movimento Negro Unificado, uma mulher acessível, cordial, e com um espírito de luta poucas vezes visto por mim.

             Em meio a toda beleza da manifestação pacífica, um fato chamou minha atenção: não vi ninguém da turma militante da universidade! Eles são um grande contingente de alunos de humanas, que juram lutar contra o preconceito e a desigualdade, mas que não se fizeram presentes nos protestos. Estariam eles muito ocupados em seus diretórios acadêmicos ou nas atléticas? Talvez estivessem tão absortos em seus estudos sociológicos que nem tiveram tempo de protestar contra a moderna forma de escravidão. Já não seria tempo do militante branco de elite descer do pedestal e juntar-se aos manifestantes negros e pobres?

             A ausência dessa militância branca universitária nos protestos me fez relembrar uma antiga suspeita, será que essa garotada adotou o discurso em defesa das minorias apenas como marketing pessoal? Teriam abraçado o discurso em defesa de negros, pobres e Lgbt’s apenas pra mostrar que não são pessoas fúteis? Muitos poderão dizer que essas boas almas universitárias não compareceram por causa da pandemia, mas o fato é que já vi muitos deles em aglomerações nos bares de classe média e alta, portanto, uma manifestação numa praça, ao ar livre, com todos usando máscara, seria muito mais segura e relevante. 

            Fato exposto, quem estava na praça a protestar por justiça não eram os estudantes de humanas, mas os pretos e pobres da periferia. O que me lembra uma frase em voga nas redes sociais: “enfim, a hipocrisia!”.  

Patos de Minas, 30 de dezembro de 2020.

  Sobre o autor:   Eduardo Tavares é Técnico em Segurança Pública, atuou como agente humanitário voluntário no Senegal, África; foi tradutor voluntário da ONG humanitária africana “Vrai Cep”, e foi representante desta no Brasil, graduando em História, professor de Francês, e colunista de política e comportamento do Jornal Patos Hoje.